Precisão e adequação vocabular
Postado por Sérgio Nogueira em 12 de maio de 2010 às 09:48
16. AMORTIZAR ou AMORTECER? e MINIMIZAR ou DIMINUIR?
A frase é: “A água amortizou sua queda.”
O correto é: “A água amorteceu sua queda.”
Amortizar e amortecer são derivados de morte (=levar à morte). Significam “diminuir, amenizar”. Há, entretanto, uma sutil diferença: amortizar só é utilizado para se referir a dívidas ou bens materiais. Se você pagou à Caixa Econômica mais uma prestação referente ao financiamento feito para adquirir a casa própria, você amortizou sua dívida (=diminuiu a dívida). Quando você cai, sua queda pode ser amortecida pela grama ou pela água (=amenizada/suavizada pela grama ou pela água).
Mais do que diminuir é minimizar, que é um neologismo já devidamente registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, e nos novos dicionários Aurélio, Houaiss, Caldas Aulete, Michaelis… Certa vez, um aluno definiu minimizar como “diminuir ao máximo”. Ele tinha alguma razão. Apenas misturou duas possibilidades: “reduzir ao mínimo” com “diminuir o máximo possível”. Outro aspecto a ser observado é o uso do verbo minimizar com um sentido “suspeito”. Há quem diga: “É preciso minimizar o fato”. Nesse caso, minimizar é usado com o sentido de “atenuar, suavizar”. Ou pior: “fazer o fato parecer menor”.
17. CIDADE ou MUNICÍPIO? DIVISA ou LIMITE ou FRONTEIRA?
A frase é: “O pecuarista cria seu gado no interior da cidade.”
O mais adequado é: “O pecuarista cria seu gado no interior do município.”
O pecuarista que cria seu gado no interior da cidade deve estar provocando um grande problema, pois criar gado no centro da cidade gera muitos problemas urbanos. Muita gente boa trata cidade e município como sinônimos. Rigorosamente, cidade refere apenas o núcleo urbano e município abrange toda a área, urbana e rural.
Entre municípios não há divisas nem fronteiras, e sim limites. Divisas separam estados, e entre países há fronteiras. Portanto, é inadequado quando a repórter diz: “Aqui na divisa do Rio de Janeiro com São João do Meriti”. Entre municípios há limites. É só observar as placas do DNER: “Limite (entre) Rio de Janeiro (e) Duque de Caxias”. Quem tem divisa é o estado do Rio de Janeiro com o estado de São Paulo, com Minas Gerais, com o Espírito Santo. E o Brasil tem fronteiras com quase todos os países da América do Sul.
18. GEADA CAI ou NÃO CAI?
A frase é: “Nesta madrugada, pode cair geada.”
O correto é: “Nesta madrugada, pode se formar geada.”
Ao contrário da neve, que cai, a geada se forma no solo ou sobre águas paradas. Portanto, geada não cai.
Se neve cai, é desnecessário dizer que “caiu neve”. Basta dizer que nevou. O mesmo ocorre com a chuva. Li num bom jornal: “A chuva que caiu ontem à noite provocou…” Não conheço chuva que não cai. “Chuva que caiu” é redundante, é desnecessário. Bastaria dizer: “A chuva de ontem à noite provocou…”
19. QUASE NENHUMA ou QUASE?
A frase é: “Não há quase nenhuma correção a fazer.”
O adequado é: “Não há quase correção a fazer.”
Se não existe “meia correção” e nenhuma indica ausência absoluta, a combinação “quase nenhuma” é absurda. Estamos diante de uma contradição: ou não há nenhuma correção a fazer ou não há quase correção a fazer. Se a intenção do falante é dizer que o trabalho está quase perfeito, com pouquíssimos erros para corrigir, basta eliminar o nenhuma: “Não há quase correção a fazer”. Se o trabalho estiver perfeito, aí “não haverá nenhuma correção a fazer”.
Deu num bom jornal: “Jogador custa quase mais de um milhão de dólares”. Gostaria de saber quanto custa o tal jogador. O repórter certamente estava um pouco inseguro. Não é difícil deduzirmos que o preço do atleta é mesmo de um milhão de dólares, pois o “quase” e o “mais” se anulam. Assim sendo, o “jogador custa um milhão de dólares”.
Ou será que ele queria dizer um pouco mais de um milhão de dólares?
20. SEGUIMENTO ou SEGMENTO?
A frase é: “É excelente seguimento de mercado.”
O correto é: “É excelente segmento de mercado.”
Confundir seguimento com segmento é muito frequente. Seguimento vem do verbo seguir. Seguimento é o “que segue”: “Isto vai aparecer no seguimento do trabalho”. Segmento vem do verbo segmentar, que uma das partes resultantes da segmentação. Segmentar é “dividir, separar”.
Deu num bom jornal: “O atacante é um grande finalista”. O nosso repórter certamente queria dizer “um grande finalizador”, ou seja, aquele que finaliza bem o lance, chuta bem ao gol. Um grande finalista pode ser o time do atacante, desde que chegue ao grande jogo final do campeonato.
Um forte abraço. Até nossa próxima aula.
http://colunas.g1.com.br/portugues/
A frase é: “A água amortizou sua queda.”
O correto é: “A água amorteceu sua queda.”
Amortizar e amortecer são derivados de morte (=levar à morte). Significam “diminuir, amenizar”. Há, entretanto, uma sutil diferença: amortizar só é utilizado para se referir a dívidas ou bens materiais. Se você pagou à Caixa Econômica mais uma prestação referente ao financiamento feito para adquirir a casa própria, você amortizou sua dívida (=diminuiu a dívida). Quando você cai, sua queda pode ser amortecida pela grama ou pela água (=amenizada/suavizada pela grama ou pela água).
Mais do que diminuir é minimizar, que é um neologismo já devidamente registrado no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado pela Academia Brasileira de Letras, e nos novos dicionários Aurélio, Houaiss, Caldas Aulete, Michaelis… Certa vez, um aluno definiu minimizar como “diminuir ao máximo”. Ele tinha alguma razão. Apenas misturou duas possibilidades: “reduzir ao mínimo” com “diminuir o máximo possível”. Outro aspecto a ser observado é o uso do verbo minimizar com um sentido “suspeito”. Há quem diga: “É preciso minimizar o fato”. Nesse caso, minimizar é usado com o sentido de “atenuar, suavizar”. Ou pior: “fazer o fato parecer menor”.
17. CIDADE ou MUNICÍPIO? DIVISA ou LIMITE ou FRONTEIRA?
A frase é: “O pecuarista cria seu gado no interior da cidade.”
O mais adequado é: “O pecuarista cria seu gado no interior do município.”
O pecuarista que cria seu gado no interior da cidade deve estar provocando um grande problema, pois criar gado no centro da cidade gera muitos problemas urbanos. Muita gente boa trata cidade e município como sinônimos. Rigorosamente, cidade refere apenas o núcleo urbano e município abrange toda a área, urbana e rural.
Entre municípios não há divisas nem fronteiras, e sim limites. Divisas separam estados, e entre países há fronteiras. Portanto, é inadequado quando a repórter diz: “Aqui na divisa do Rio de Janeiro com São João do Meriti”. Entre municípios há limites. É só observar as placas do DNER: “Limite (entre) Rio de Janeiro (e) Duque de Caxias”. Quem tem divisa é o estado do Rio de Janeiro com o estado de São Paulo, com Minas Gerais, com o Espírito Santo. E o Brasil tem fronteiras com quase todos os países da América do Sul.
18. GEADA CAI ou NÃO CAI?
A frase é: “Nesta madrugada, pode cair geada.”
O correto é: “Nesta madrugada, pode se formar geada.”
Ao contrário da neve, que cai, a geada se forma no solo ou sobre águas paradas. Portanto, geada não cai.
Se neve cai, é desnecessário dizer que “caiu neve”. Basta dizer que nevou. O mesmo ocorre com a chuva. Li num bom jornal: “A chuva que caiu ontem à noite provocou…” Não conheço chuva que não cai. “Chuva que caiu” é redundante, é desnecessário. Bastaria dizer: “A chuva de ontem à noite provocou…”
19. QUASE NENHUMA ou QUASE?
A frase é: “Não há quase nenhuma correção a fazer.”
O adequado é: “Não há quase correção a fazer.”
Se não existe “meia correção” e nenhuma indica ausência absoluta, a combinação “quase nenhuma” é absurda. Estamos diante de uma contradição: ou não há nenhuma correção a fazer ou não há quase correção a fazer. Se a intenção do falante é dizer que o trabalho está quase perfeito, com pouquíssimos erros para corrigir, basta eliminar o nenhuma: “Não há quase correção a fazer”. Se o trabalho estiver perfeito, aí “não haverá nenhuma correção a fazer”.
Deu num bom jornal: “Jogador custa quase mais de um milhão de dólares”. Gostaria de saber quanto custa o tal jogador. O repórter certamente estava um pouco inseguro. Não é difícil deduzirmos que o preço do atleta é mesmo de um milhão de dólares, pois o “quase” e o “mais” se anulam. Assim sendo, o “jogador custa um milhão de dólares”.
Ou será que ele queria dizer um pouco mais de um milhão de dólares?
20. SEGUIMENTO ou SEGMENTO?
A frase é: “É excelente seguimento de mercado.”
O correto é: “É excelente segmento de mercado.”
Confundir seguimento com segmento é muito frequente. Seguimento vem do verbo seguir. Seguimento é o “que segue”: “Isto vai aparecer no seguimento do trabalho”. Segmento vem do verbo segmentar, que uma das partes resultantes da segmentação. Segmentar é “dividir, separar”.
Deu num bom jornal: “O atacante é um grande finalista”. O nosso repórter certamente queria dizer “um grande finalizador”, ou seja, aquele que finaliza bem o lance, chuta bem ao gol. Um grande finalista pode ser o time do atacante, desde que chegue ao grande jogo final do campeonato.
Um forte abraço. Até nossa próxima aula.
http://colunas.g1.com.br/portugues/
Nenhum comentário:
Postar um comentário
SEU COMENTÁRIO É MUITO IMPORTANTE PARA NÓS....